Para professora, Temer na ONU representa governo 'precário e frágil'



Na opinião de Analúcia Danilevicz Pereira, presidente brasileiro vai à Assembleia da ONU e encontro com Trump como foi à reunião dos Brics: como chefe de um governo fraco e "sem condições de garantir representatividade" ao país
Trump e Temer

São Paulo – Na manhã desta terça-feira, Michel Temer fará o discurso de abertura da 72ª Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, onde o presidente chegou hoje (18). Nos últimos dias a imprensa informou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reúne-se hoje com Temer e o colega da Colômbia, Juan Manuel Santos.
O tema principal do encontro seria a crise da Venezuela, país contra o qual o mandatário norte-americano vem fazendo discursos cada vez mais ameaçadores. Chegou a dizer por exemplo, recentemente, que as armas são uma “opção sobre a mesa”.
Nesse contexto, qual o significado do encontro entre o presidente do país mais poderoso do mundo com o colega brasileiro, que chegou ao poder por um golpe parlamentar e cujos índices de aprovação popular são baixíssimos? Apesar da boa vontade, Temer não pode fazer muito para ajudar Trump na sua cruzada antichavista, na opinião da professora Analúcia Danilevicz Pereira, da área de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Um governo tão frágil quanto o de Temer, que papel exatamente poderia ter, tão significativo, a ponto de realmente representar uma ameaça a um país vizinho? Esse governo está mais envolvido em questões ligadas à sua própria sobrevivência do que propriamente tem condições para articular algo coletivamente, como uma ação contra a Venezuela”, diz. “Uma coisa é pensar num governo que realmente tem força, que represente a direita brasileira, alinhado aos Estados Unidos, com condições de respaldar qualquer ação norte-americana na Venezuela. Outra coisa é um governo precário e frágil como esse que nós temos no Brasil”, acrescenta. 

Para ela, um governo “absolutamente vulnerável, em crise, com dificuldade de garantir níveis mínimos de legitimidade”, não tem condições de jogar politicamente como um ator importante nas relações internacionais. “Seria mais preocupante se tivéssemos um presidente que tivesse legitimidade, apoio interno, para produzir esse tipo de ação externa, e esse governo não tem.”
A ameaça de Trump de usar armas contra a Venezuela preocupa ou é mais uma bravata?
Já há algum tempocé possível observar que há um discurso mais belicista e militarista por parte de Trump, mas esse discurso não tem se convertido em ações efetivas. É preciso considerar uma série de questões anteriores. Em termos de uso da força, os governos de Barack Obama foram bastante ostensivos. Os Estados Unidos atuaram no período com presença militar em uma série de regiões e eventos, e deu continuidade a guerras abertas pelos antecessores, usando o que se chama hard powerostensivamente.
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Trump se elegeu em boa medida por uma combinação de fatores:  a promessa de gastar menos com as guerras nas quais os Estados Unidos estavam envolvidos – como Iraque e Afeganistão; o discurso no qual a defesa do cidadão americano, os interesses norte-americanos, o resgate da capacidade econômica, a superação das crises internas estavam acima de qualquer outra questão. Para isso, ele tem um discurso hostil ao que poderia representar ameaça a essa nova estabilidade americana: questões de imigração, como no discurso contra o México. Um pouco na mesma medida vai esse discurso contra a Venezuela. Se pensarmos no impacto regional que a crise venezuelana produz, o Brasil sente muito mais do que qualquer outro país – mais do que os Estados Unidos.


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